domingo, 11 de março de 2012

Here and Back Again...

Olá a todos!

Depois de um logo inverno e um filho (filha!), resolvi voltar a escrever no blog. Já estava com saudades de escrever um pouco sobre as minhas experiências cinematográficas nos últimos tempos. Infelizmente não foram muitas, mas pretendo voltar a assistir filmes agora que a minha filhota já está maiorzinha (e demandando mais atenção! rs).

Além das críticas costumeiras, vou tentar atualizar o site com algumas notícias sobre filmes que ainda não entraram em cartaz, além de filmes de catálogo que sempre são bem-vindos (principalmente com o Netflix bombando aqui em casa).

Abraços a todos e bons filmes!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Comer, Rezar, Amar (Eat, Pray, Love - EUA - 2010)

Sinopse: Mulher casada deseja ter uma vida diferente e abandona o marido para poder viajar pelo mundo.

Elenco: James Franco, Viola Davis, Javier Bardem (Felipe), Julia Roberts, Richard Jenkins

Direção: Ryan Murphy

Roteiro: Ryan Murphy,Elizabeth Gilbert

Nunca li ou tive vontade de ler o livro homônimo escrito pela americana Elizabeth Gilbert. Não por ser um livro de memórias “femininas”, mas porque simplesmente não me chamou atenção a história de uma mulher que tem uma crise de meia idade aos 30 anos e foge para países distantes para tentar se encontrar. Além disso, tive um retorno negativo de várias pessoas que leram o livro, dizendo que o mesmo era extremamente chato, salvando-se apenas a parte do “Amar”. E o filme não é muito diferente.

Dividido em três partes, como o próprio título diz, o filme não engrena até o seu terço final. Os dois primeiros “tópicos” são chatos, arrastados e estupidamente mal montados. A edição chega a irritar certas horas com cortes abruptos e sem sentido. Chega a causar confusão ao espectador. Já a terceira parte salva o filme do desastre total, já que nos apresenta um texto belíssimo, além das paisagens deslumbrantes de Bali. Aliás, mesmo que o filme não seja lá essas coisas, o seu texto é muito bom, com frases de efeito muito boas e que compõem bem o momento vivido por Julia Roberts, como, por exemplo, certa fala de James Franco: “Vamos viver uma vida infeliz e miserável juntos para, pelo menos, sermos felizes por estarmos perto um do outro.”. Esse tipo de incerteza é poético em algumas partes e confrontam a protagonista a todo o momento, o que mostra certo cuidado com um material tão focado em auto-ajuda. E material bom é o que parece não faltar. Pena que foi muito mal aproveitado.

Na primeira parte, “Comer”, a protagonista enfrenta a crise no casamento e tem seu primeiro contato com “Deus” em certo momento de desespero. Esse conflito é muito mal explorado e chato, culminando numa passagem completamente sem sentido pela Itália. Parece que essa primeira parte foi apenas para mostrar a grande Roma, com seus italianos gesticulares e suas ruas estreitas, além da sua culinária, claro. Nenhum personagem interessante é apresentado nessa primeira parte, exceto pela amiga de Liz, interpretada por Viola Davis, que é casada e acabou de ter um filho. É dela uma outra ótima frase do filme: “filho é como uma tatuagem no rosto. Tenha certeza de que você quer ter um.”. É nessa parte também que ela conhece seu primeiro namorado pós casamento vivido por um James Franco sorridente demais e com cara de drogado. Gosto muito de James Franco, mas esse seu personagem me lembrou muito sua caracterização em Segurando as Pontas com o Seth Rogen, ou seja, não encaixou no nível dramático necessário para o papel.

A segunda parte, “Rezar”, mostra o sacrifício de Liz em tentar encontrar o seu equilíbrio e se perdoar. Ato completamente dispensável e que não foi muito bem explicado. Qual a sua real motivação para ir para a Índia? Se aquele lugar era tão importante para seu ex-namorado, porque ir justamente pra lá? Ficou parecendo um desejo de uma menina mimada contrariando o seu pai autoritário e fugindo para os confins do universo. Nada de interessante acontece e nesse momento eu quis sair do cinema. A única coisa que realmente me chamou a atenção foi o relacionamento de Liz como texano Richard, vivido por Richard Jenkins, que, apesar de não ser um papel a altura de seu talento, prova em certa cena que é um grande ator. Nessa cena, ele conta a sua história de uma forma emocionante e extremamente bem atuada. Pena que é só nesse ato que é o pior dos três.

Já na parte “Amar”, a coisa fica diferente. Encontramos personagens interessantes, como o brasileiro Felipe, vivido por um Jarvier Bardem carismático, além da curandeira e sua filhinha (uma graça a menina) e o xamã que aparece no início do filme, mas que agora possui um papel maior e mais engraçado e tocante. Mas é Javier Bardem que rouba a cena, como o brasileiro Felipe e seu português macarrônico. O seu relacionamento com o filho é sensível demais e muito bonito. Além disso, vemos no rosto dele o desconforto de se aproximar de Liz, já que não faz isso há muito tempo. Um papel perfeito para ele. Uma coisa que reparei é a falta de tato em algumas cenas que poderiam ser mais exploradas, como, por exemplo, a cena da doação à curandeira e sua filha. Essa cena tinha tudo pra ser uma cena emocionante, uma cena para desabar qualquer um. Infelizmente fizeram algo tão raso e tão rápido que nem sentimos empatia por aquele gesto.

Agora quem carrega o filme nas costas é Julia Roberts. Julia sempre foi uma ótima atriz e, mesmo depois de um hiato de quase 7 anos desde seu último filme como protagonista, continua sendo. Sua Liz é um poço de incertezas e dúvidas e Julia consegue transmitir isso tudo com olhares e gestos simples. Nos momentos dramáticos, Julia é contida como sua personagem deveria ser, e vemos em seus olhos que ela está prestes a explodir. Uma atuação ótima, apesar do filme ser meia boca.

Apesar de 3 boas atuações, o filme não engrena justamente pelos dois terços iniciais. O mais engraçado é que você assiste e vê que existe material suficiente para se fazer um ótimo filme, um filme emocionante. Infelizmente Ryan Murphy, o diretor, não conseguiu captar o espírito do que o filme deveria ser. Um desperdício. Uma pena.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 (Brasil - 2010)

Sinopse: Vários anos depois dos acontecimentos do filme original, o agora coronel Nascimento tem um filho adolescente, fruto do casamento com Rosane, sua ex-esposa, que está casada com um deputado. Quando milícias formadas por PMs começam a extorquir moradores das favelas do Rio, constituindo uma máfia implacável, Nascimento se vê diante de um adversário com o qual não sabe lidar: os políticos.

Elenco: Maria Ribeiro (Rosane), Wagner Moura (Capitão Nascimento), Seu Jorge, Milhem Cortaz (Capitão Fábio), Tainá Müller, Irandhir Santos, André Ramiro, André Mattos, Bruno D’Elia, Pedro Van Held, Sandro Rocha.

Direção: José Padilha

Roteiro: Bráulio Mantovani

Semana passada tentei, sem sucesso, assistir ao mais novo Blockbuster brasileiro. Fiquei frustrado com as filas gigantescas e falta de ingressos nos cinemas por vários dias seguidos. Pensei comigo mesmo “final de semana de estréia é complicado. Vou deixar pro póximo que vai estar mais tranqüilo.”. Ledo engano. Mais uma vez passei alguns minutos preciosos à frente do computador, lutando contra o site extremamente lento da Ingresso.com para tentar comprar meus preciosos ingressos. Tive que fazer umas 20 ligações para acertar os horários com o grupo que iria comigo. No final das contas, quase todos desistiram e ficamos apenas eu, minha digníssima Thais e a minha irmã Luciana. Felizmente posso dizer que valeu cada minuto perdido.

Tudo no filme é perfeito, por isso irei comentar separadamente tudo o que me chamou a atenção.

O design de som está impecável. Nunca antes num filme brasileiro o som foi tão bem mixado e realizado. Não estou falando só dos tiros, estou falando da ambientação da favela, da câmara dos deputados, das internas, de Bangu 1, tudo está perfeito, com vibração, com força. Ainda não descobri onde foi realizada a mixagem, se aqui ou nos EUA. Se foi aqui, chegamos ao nível de filmes americanos o que é invejável.

A direção de arte está ótima, com uma perfeita ambientação dos lugares onde se passa o filme. Tudo bem que temos muitas externas, mas mesmo assim, podemos ver claramente que tudo foi feito com muito cuidado, das roupas dos presos de Bangu 1 até o hospital fictício utilizado numa parte crucial do filme (a locação utilizada para esse hospital foi o prédio da Ampla em Niterói, que é perto da onde eu morava. Passei mais de uma semana dormindo com barulho de tiros e derrapagens).

A montagem do filme é divina. Daniel Rezende (montador do primeiro e indicado ao Oscar de melhor montagem por Cidade de Deus) reafirma sua capacidade de contruir um filme com perfeição, tornando-o fluente e crível. As intercalações entre a invasão de Bangu 1 e uma palestra de Fraga (personagem de Irandhir Santos) são de tirar o fôlego!

O roteiro de Bráulio Mantovani é de uma coragem sem precedentes. Ele critica a polícia e a política de uma forma surpreendente. Nunca esperaria isso de um filme a ser lançado próximo das eleições no país. Fora isso, os detalhes (o linguajar dos PMs e Milicianos são fantásticos), a construção dos personagens (o Fraga é um contraponto perfeito ao Nascimento), a forma como ele conseguiu fazer um filme totalmente novo e completamente diferente do primeiro, tudo isso é mérito dele. Não é a toa que o cara foi indicado ao Oscar por Cidade de Deus.

O elenco de apoio é sublime. Conseguimos ver com perfeição o que se tornaram alguns personagens do primeiro filme e nos surpreendemos com outros que mal apareciam. André Ramiro volta ao personagem Mathias com uma interpretação contida e ideal, transmitindo determinação a cada olhar. Se antes ele passava insegurança e um tom mais de paz, agora ele se tornou o Capitão Nascimento. E seu criador percebe isso no impulso da criatura no início do filme. Milhem Cortaz (Coronel Fábio) continua sendo o ponto cômico do filme, com sua fala rápida e recheada de palavrões. São dele os novos bordões que irão cair na boca do povo. Não há como não sair do cinema rindo de falas como “Pica das galáxias” ou mesmo “quer me foder, então me beija.”. Um outro personagem que aparece pouquíssimo no primeiro filme e que agora volta como um dos papéis principais é o Major Russo, interpretado por Sandro Rocha. Numa interpretação perfeita, Sandro consegue transformar o seu policial em um monstro sem limites. É bom ver que algumas pessoas, quando tem a oportunidade, podem surpreender, e foi o que aconteceu com Rocha. Fiquei impressionado com a atuação de André Mattos, como o político e apresentador de TV Fortunato. Como uma mistura de Vagner Montes e Dattena, ele mostra como a mídia pode influenciar nas decisões do governo e ainda mais na decisão do povo. Com uma atuação perfeita sem ser caricaturada demais (para o personagem é impossível não ser caricato, pelo menos um pouco), ele rouba a cena em diversos momentos do filme, deferindo frases de efeito como “Agora vamos dar bombons para a vagabundagem” entre outras extremamente inspiradas. Agora, quem rouba mesmo a cena é Irandhir Santos com o seu deputado Fraga. É impressionante como conseguimos simpatizar com seu personagem, com sua causa, com a sua vontade de fazer o certo, nas rixas com Nascimento (que deveria ser o herói da história). Um ator a ser descoberto. Muito bom mesmo. O único ponto fraco no elenco é o filho de Nascimento (o de 15 anos). Apesar de ter poucas falas no filme, o menino é fraco demais perto de monstros como Wagner Moura. E por falar nele...

Bom, não há Tropa de Elite sem Capitão Nascimento. E não há Capitão Nascimento sem Wagner Moura. Num país cheio de atores caricaturados que só sabem fazer novela, eis que surge esse baiano pra mostrar pro mundo como ser um camaleão. Sim, um camaleão. Ele consegue ser um comediante de mão cheia, consegue fazer papel de vilão em novela e consegue ser um oficial do BOPE, isso tudo sem se prender a um personagem, o que é um fato raro. O seu Coronel nascimento é perfeito. Os detalhes de sua interpretação são minimalistas e percebidos desde a conversa com o filho afastado (perceba como ele fica desconfortável em dizer algo carinhoso para o filho) até em cenas mais pesadas, como quando ele espanca determinado personagem (vemos ódio em seu rosto). Um personagem extremamente complexo e que caiu como uma luva nas mãos de um ator competente. Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que Wagner Moura é o melhor ator do Brasil.

Mas nada disso seria possível sem uma mão forte no comando da produção. José Padilha, que já demonstrou competência sublime em Ônibus 174 e no primeiro Tropa, mostra o quanto sua técnica melhorou nesse segundo filme. Não só sua técnica, mas também suas escolhas. Escolhas até então controversas ainda mais de um filme produzido pela Globo, mas louváveis. As sequências de ação são perfeitamente conduzidas e bem superiores tecnicamente que as do primeiro filme. A cena do atentado então é muito boa e tensa, assim como a invasão de um personagem ao novo QG da milícia no bairro do Tanque em Jacarepaguá. Quase arranquei os braços da poltrona! A direção de atores é feita de forma competente, onde vemos, por várias vezes, a permissão do improviso, o que torna o filme mais crível. José Padilha, um dos melhores diretores brasileiros atualmente, conseguiu um feito incrível: fez uma continuação de um filme no Brasil (são pouquíssimos os casos) e ainda provou que se pode fazer um sequência infinitas vezes melhor que o seu original. Padilha ainda vai trazer o nosso primeiro Oscar, tenho certeza.

Por mais uma vez esse ano meu queixo foi ao chão no final de uma sessão de cinema. Um soco no estômago, como diriam alguns críticos. Foi isso que eu senti ao subir dos créditos desse Tropa de Elite 2. Me senti nauseado, enojado, puto. O turbilhão de pensamentos que tive ao final de “A Origem” voltou, mas foram pensamentos completamente diferentes, pensamentos de raiva, raiva da negligência, da minha negligência, da negligência do próximo e do pensamento “vou me dar bem” que permeia cada brasileiro. Como podemos viver numa sociedade assim? Como podemos aceitar e permanecermos passivos, acomodados em nossas casas, assistindo nossa TV a cabo, dentro de um quarto com ar-condicionado enquanto a podridão governa? Podridão que nós colocamos lá! Que nós, como cidadãos, aceitamos e elegemos! Com isso só posso concluir que somos burros, burros passivos e ignorantes. E agradeço ao José Padilha por me mostrar, com um soco no estômago, a gravidade dessa passividade.


Obs.: Há uma falha no filme bem boba. No início, o Fábio Fraga é candidato a deputado estadual, mas seu número possui apenas 4 dígitos, o que representa um deputado federal.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Deixa Ela Entrar (Suécia - 2008)

Sinopse: Oskar tem 12 anos e é um garoto ansioso e frágil, constantemente provocado pelos colegas de classe. Com a chegada de Eli, uma garota séria e pálida da mesma idade, que se muda para a vizinhança com o pai, Oskar ganha uma amiga. Quando a cidade começa a ser assombrada por uma série de assassinatos e desaparecimentos inexplicáveis, o menino, fascinado por histórias horripilantes, não demora a perceber que a amiga é vampira. Os dois acabam se apaixonando e a vampira lhe dá a coragem para lutar contra seus agressores.

Elenco: Kåre Hedebrant (Oskar), Lina Leandersson (Eli)

Direção: Tomas Alfredson

Roteiro: John Ajvide Lindqvist

Há algum tempo atrás li, em um site de cinema, que esse Deixa Ela Entrar estava fazendo certo sucesso na Europa e que era um terror extremamente eficiente e tocante. Eu não tinha entendido direito qual seria a associação dessas duas palavras, já que, pra mim, um filme de terror seria qualquer coisa, menos tocante. Foi então que, muito tempo depois, tive a oportunidade de assistir a esse filme sueco.

Sabemos do sofrimento de Oskar, o menino protagonista, na primeira cena do filme, onde ele “treina” um possível ataque aos seus agressores (ele sofre de bullying), mas também percebemos a sua fragilidade através do seu corpo franzino e a falta de coragem de realizar tais ataques, mesmo em um ambiente seguro como o seu quarto. Acho que por isso não estranhamos o rápido interesse dele na menina que acabara de se mudar para o apartamento ao lado, uma pessoa tão estranha quanto ele naquele mundo injusto. À princípio, a aproximação dos dois não teria nada demais. O problema todo é que Eli não é uma menina comum e, sim, um vampiro.

Um ponto positivo do filme é nunca confirmar isso. Apesar de vermos Eli se alimentando de sangue e atacando algumas vítimas, em momento algum sabemos o que realmente ela é. Inclusive, em certo momento do filme, o garoto Oskar pergunta a ela “O que você é?” e ela responde “Sou igual a você.”, o que remete ao fato da própria garota desconhecer a sua origem. O pai da garota parece desconhecer tal fato também e a alimenta apenas para seguir com seus deveres de pai, sem questionar em momento algum os seus atos. Aliás, a relação de pai e filha é maior do que o simples cuidar, já que, em outro momento do filme, o pai prefere “dar um jeito” a ameaçar a segurança da filha. O sentimento de pai, por horas, chega a se confundir, demonstrando o desequilíbrio desse homem quando, aparentando ciúmes, ele pede a Eli: “Não quero mais que você veja esse garoto.”.

Algumas outras “invencionices” são extremamente interessantes, como o impedimento da garota entrar sem ser convidada, as várias formas mais “velhas” em que a garota é mostrada (demonstrando a incerteza de sua real idade) e o final poético e extremamente violento. Aliás, é no final do filme que sabemos a real relação da garota com o pai e como o garoto é importante pra ela.

Contando com uma direção de arte e fotografia magníficas, Deixa Ela Entrar surpreende por ser um filme tocante, sensível e estranho. Um horror com sentimento. Algo impossível de se ver em Hollywood.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Zona Verde (Green Zone - EUA 2010)

Sinopse: Adaptação do livro "Imperial Life in the Emerald City: Inside Iraq`s Green Zone", sobre as conseqüências da ocupação americana no Iraque.

Elenco: Brendan Gleeson, Antoni Corone, Matt Damon, Jason Isaacs, Greg Kinnear, Amy Ryan

Direção: Paul Greengrass

Roteiro: Brian Helgeland

A invasão do Iraque e a derrota de Saddam Hussein são assuntos delicados, mas venerados pelo povo americano como uma grande vitória. Todo mundo sabe que não foi bem assim, já que a justificativa para tal invasão nunca fora encontrada. Ficaram por meses (se não me engano anos) procurando por armas que não existiam, que não foram construídas ou compradas, uma desculpa esfarrapada. Acredito que os americanos tinham um motivo maior, um motivo não externado e que nada tem a ver com o petróleo Iraquiano. Eles simplesmente queriam mostrar ao mundo sua superioridade militar com uma clara mensagem: “não se metam com a gente, porque senão invadimos seu país e destruiremos vocês.”. Como eu disse, esse é um assunto delicado, já que criticar ou expor o real motivo dessa “justificativa” feriria o orgulho americano. Acho que por isso contrataram um inglês para comandar essa produção.

Paul Greengrass conseguiu tocar na ferida americana contando a história da captura do General Al Rawi, o famoso valete de paus do baralho criado pelo exército americano para representar os figurões de Saddam (aliás, uma caracterização extremamente infeliz do exército, o que torna a “missão de paz” no Iraque ainda mais estapafúrdia). Seguimos então o tenente Roy Miller, interpretado por um ótimo Matt Damon, que está cansado de pistas erradas e procura um porque naquilo tudo. Quando um Iraquiano lhe dá uma pista quente, Miller começa a entender as maracutaias do governo americano e as mentiras por trás daquele circo. Contar mais seria estragar a história.

Matt Damon continua surpreendendo com papéis densos e escolhas certeiras em sua carreira (diferente de seu amigo Ben Afleck). O seu Roy Miller (personagem fictício) é extremamente convincente. Conseguimos ver em suas expressões faciais a dor de se ver num circo armado pra nada, com um propósito furado e idiota. Como deve ser difícil para um soldado, que ama sua pátria e a defende com todas as forças que possui, que acredita plenamente nos seus governantes, ver que tudo não passava de um interesse tolo e que nada tinha a ver com a instauração da democracia naquele país. Damon consegue transmitir tudo isso, nos entregando uma interpretação forte e marcante. Agora quem me surpreendeu foi um ator desconhecido. Seu nome: Khalid Abdalla. Você consegue ver nos olhos de Freddy, seu personagem, o descontentamento e a tristeza de um cidadão que, como Miller, ama seu país e sofre ao vê-lo destruído. Suas dúvidas são externadas a cada decisão tomada, por muitas vezes precipitada. Ele se torna similar à Miller, um complemento em lados opostos da situação. Um ótimo ator a ser descoberto.

Com ótimas cenas de ação, o filme é tenso e a sensação de urgência é total. A câmera inquieta de Greengrass, já característica em outros projetos, nos permite sentir que o tempo é curto. A fotografia e os efeitos que recriaram uma Bagdá destruída são estupendos. Tecnicamente o filme é maravilhoso, mas nada disso seria possível sem a mão firme de Greengrass na direção e a coragem desse homem em expor ao povo americano suas fraquezas (isso ele já conseguiu em United 93, outro filme maravilhoso). Ele mostrou a farsa em tela grande para o mundo todo. Acho que por isso o filme não fez sucesso nos EUA. Afinal, é difícil pra um povo tão prepotente reconhecer e aprender com os erros, o que me remete a uma frase tocante, deferida por Freddy a Miller no final do filme, e que fecha com chave de ouro a história: “Não é você quem vai decidir o que acontece aqui.”. Com certeza, algo difícil para um americano engolir, não é mesmo?



Obs.1: O filme e o personagem de Damon nada tem a ver com a trilogia Bourne.
Obs.2: O termo Green Zone ou Zona Verde significa o nome da área ocupada pelos americanos.
Obs.3: O contraste social entre essa Green Zone e o resto do país é gritante e revoltante.

domingo, 12 de setembro de 2010

Eclipse (EUA - 2010)

Sinopse: Na continuação de "Lua Nova", Bella Swan precisa enfrentar as consequências de ser amiga do lobisomem Jacob Black e namorada do vampiro Edward Cullen. Ao mesmo tempo, a moça se vê aterrorizada por uma misteriosa onda de assassinatos em Seattle e o fato de estar sendo perseguida por uma maligna vampira. Baseado no terceiro livro da série iniciada em "Crepúsculo".

Elenco: Taylor Lautner (Jacob Black), Bryce Dallas Howard (Victoria), Peter Facinelli (Dr. Carlisle Cullen), Jack Huston (King Royce II), Catalina Sandino Moreno (Maria), Kellan Lutz (Emmett Cullen), Ashley Greene (Alice Cullen), Jackson Rathbone (Jasper Hale), Elizabeth Reaser (Esme Cullen), Robert Pattinson (Edward Cullen), Jodelle Ferland, Nikki Reed (Rosalie Hale), Kristen Stewart (Bella Swan), Kirsten Prout (Lucy), Chaske Spencer (Sam), Xavier Samuel (Riley), Billy Burke (Charlie Swan)

Direção: David Slade

Roteiro: Melissa Rosenberg

Ontem tive mais uma dose da Saga Crepúsculo. Depois do horroroso Crepúsculo e do muito mais que terrível Lua Nova, chegamos ao terceiro capítulo: Eclipse. O filme já começa mal pelo simples fato do título ser uma referência ao nada, já que em momento algum se fala desse evento astronômico, direta ou subjetivamente. Stephenie Meyer, a autora, devia estar sem imaginação e, rapidamente, sacou um dicionário e abriu-o na letra E. Passou o dedo e, por um acaso, esbarrou na palavra Eclipse. Pronto! Achou o nome do livro!

Apesar de não ter gostado dos dois primeiros filmes, posso dizer que, comparativamente, este é uma obra-prima (eu disse comparativamente!!). Digo isso pelo simples fato de esse capítulo possuir uma história. Tudo bem, é uma história fraca, mas pelo menos conseguimos ver alguma motivação nos personagens, que antes eram extremamente patéticos.

A história começa com o surgimento de uma série de assassinatos em uma cidade próxima (esqueci o nome da cidade). O exército, na verdade, foi criado por Victoria (agora Bryce Dallas), para que os Cullen fossem destruídos, dando espaço para ela matar Bella. Daí pra frente é a mesma coisa: Edward e Jacob brigam por Bella em ataques de periquitas e bocas franzidas (eu ainda tento entender porque Pattinson faz aquele bico quando está nervoso).

O elenco está sofrível, como nos outros exemplares. Pattinson (Edward) continua uma Vera Verão disfarçada, só que agora fazendo mais bico do que nunca. Lautner (Jacob) continua tentando franzir a testa quando fica nervoso, mas é tanta maquiagem que se ele forçar mais um pouco aparece uma rachadura no rosto dele. Stewart (Bella) daqui a pouco fica sem lábio de tanto que ela morde a boca (acho que não dão comida pra ela no set de filmagem). O resto... bom, se o elenco principal já é ruim, não preciso comentar o resto (e não vou nem comentar dos diálogos vergonhosos).

Vamos ao que interessa: a parte que eu gostei do filme (sim, eu gostei de uma parte!!). A luta final entre o exército de vampiros, os lobos e os vampiros bonzinhos é legal e a coreografia é interessante e bem realizada. O fato dos vampiros não terem sangue foi uma boa sacada dos produtores para manterem a faixa etária, mas mesmo assim, são bem violentas, o que é um ponto positivo num filme tão insosso. Agora, nunca imaginei que Pattinson fosse fazer o que fez na luta contra Victoria, o que mostrou coragem do diretor em mostrar um pouco de maldade no coração gelado do rapaz. Bem legal!

Eu sinceramente ainda não consegui entender a mitologia “criada” por Meyer. Seus vampiros não possuem alma, mas podem amar, chorar, sentir raiva... seria possível ter sentimentos sem ter alma? Eu sinceramente estou tentando entender até agora. Espero que no próximo capítulo (que será dividido em dois filmes) as coisas melhorem. Afinal, se não melhorarem, será a “saga” mais lucrativa e imbecil que o cinema americano já realizou em todos os tempos. E ainda tem gente que chora vendo Edward dizendo a Bella que a ama... é pra queimar no mármore do inferno!

domingo, 5 de setembro de 2010

Os Mercenários (The Expendables - 2010)

Sinopse: Um grupo de mercenários tem a missão de provocar a queda de um ditador da América do Sul.

Elenco: Sylvester Stallone, Mickey Rourke, Jason Statham, Arnold Schwarzenegger, Jet Li, Dolph Lundgren, Steve Austin, David Zayas, Randy Couture, Eric Roberts, Bruce Willis, Giselle Itiè

Direção: Sylvester Stallone

Roteiro: Sylvester Stallone

Podem jogar uma pedra, mas gosto muito dos filmes da “retomada” de Stallone, principalmente Rocky Balboa. Pra quem não viu, trata-se de um filmaço que traça a dor e a solidão de um homem que vive das glórias de seu passado, já que seu presente é decepcionante e seu futuro incerto (praticamente uma biografia do próprio Stallone na época). Já Rambo IV, apesar de irregular, garante uma hora e meia de diversão escrachada e sanguinolenta, onde vemos corpos sendo despedaçados e sangue jorrando aos litros.

Esse The Expendables, que estreou no Brasil no último dia 14, está mais para Rambo IV do que para Rocky Balboa, o que não é ruim. Temos, de novo, um pouco mais de uma hora e meia de diversão. Mas o que difere esta produção da produção anterior? Ah! O elenco, claro.

Stallone conseguiu o improvável: reunir todos os atores de ação famosos dos anos 80, 90 e 2000 num único filme! São eles: o próprio Stallone, Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgren, Randy Couture, Steve Austin, Terry Crew, Mickey Rourke e (pasmem!) Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger (os dois últimos em uma ponta inspiradíssima onde os três se encontram). Só faltou o Steven Seagal e o Jean-Claude Van Damme, que recusaram participar do filme (dizem que o Van Damme não aceitou por não querer perder uma luta para o Jet Li). Só esse encontro de astros já vale todo o filme.

Sobre a história, não há muita coisa para falar. É uma história batida, onde o grupo de mercenários tem que invadir uma ilha para salvar uma garota (a brasileira Giselle Itiè) e libertar o povo de um tirano. Me lembrou muito Comando para Matar com o Arnoldão, só que aqui não é somente um fortão detonando todo mundo, são vários. Apesar do fraco enredo e diálogos sofríveis, posso dizer que Stallone preparou algumas passagens bem inspiradas, principalmente o encontro citado no parágrafo acima e as mortes no decorrer da projeção que são, no mínimo, chocantes e brutais (principalmente quando Statham resolve usar suas facas). Com curta duração, o que é um ponto positivo, o filme demonstra o quanto deve ter sido divertido gravar as cenas (muitas delas passadas no Brasil), o que prova o entrosamento do grupo.

O encontro dos sonhos de qualquer adolescente dos anos 90 aconteceu um pouco tarde. Os heróis de antes estão velhos, enrugados e lentos. Os novos tentam batalhar por um lugar ao sol. Os filmes de ação de antes não são os mesmos de hoje. O público já não é mais o mesmo. Mas quem se importa? Acho que por isso que gostei muito do filme. Esse clima saudosista é reconfortante, principalmente para os fãs que já passaram dos trinta e já não conseguem correr, saltar ou mesmo brigar como antigamente. Agora se o Stallone consegue fazer isso tudo aos 64 anos, eu também consigo! :-P


Obs.1: Giselle Itiè se deu melhor com o espanhol do que com o inglês.
Obs.2: adorei o papel do Dolph Lundgren. Realmente foi escrito pra ele.
Obs.3: se o Van Damme e o Steven Seagal estivessem no filme, dava nota máxima!
Obs.4: Stalonne já disse que no segundo ele quer Willis como um vilão barra pesada!
Obs.5: minha mulher dormiu o filme todo! :-)